quarta-feira, 13 de junho de 2012


Tenha  o prazer  de mergulhar no oceano de palavras  e  acompanhe toda minha ansiedade durante  meu percurso formativo,  nas escritas dos meus Diários de Ciclo  no curso de Licenciatura em Pedagogia na UFBA.


DIARIOS: O DESABROCHAR DO PROCESSO DE ESCRITA NOS CAMINHOS FORMATIVOS

Ao iniciar o Curso de Licenciatura em Pedagogia UFBA/FACED em Tapiramutá, fiquei ansiosa para saber os conteúdos da grade curricular e tive uma surpresa, pois o curso não permitiu o uso de um currículo estável, e sim a cada Ciclo eram apresentadas atividades, que contemplavam os eixos temáticos em que faziam parte da estrutura do curso.
Assim, a cada ciclo as atividades eram apresentadas, por eixos temáticos, que permitia aos cursistas escolherem as atividades que consideravam pertinentes ao seu processo formativo. Por dar liberdade de escolha ao professor-cursista nas atividades. Deste modo, o curso se configura em caráter contemporâneo por acreditar que o ser humano tem capacidade de formar e transformar a sociedade, sem extinção social.
Sendo que o curso, não utiliza as mesmas metodologias abordadas como em outras instituições de ensino superior em que tem como elemento principal um tema ou assunto em que o estudante pesquisa e defende, através  de questionários, entrevistas, o que diferencia em nosso curso, que trás possibilidades para o próprio professor/cursista em construir o processo formativo na intinerância curricular. Ao perceber isso, valorizei a importância do registro para formação, foi solicitada a escrita de um Diário de Ciclo.
Então, anunciado que as atividades de registros seriam  instrumentos e critérios de avaliação do curso, inicialmente fiquei receosa, principalmente, quando me dei conta que era necessário me expor na escrita e que outros iriam ter acesso a esse eu mediante o percurso vivenciado,  experimentado a cada Ciclo,  não tinha o hábito de registrar, tão pouco conhecia o que era uma linguagem acadêmica. Recordo a escrita do meu primeiro Diário, sem reflexão, meramente descritivo, contendo apenas três laudas, após receber o parecer refletir sobre a minha própria escrita, reconheço que não atendi as exigências acadêmicas.
Rememoro como um filme a escrita do meu Diário de Ciclo Um, enfrentei dificuldade por não saber como iniciar, relatei as atividades que considerei pertinentes, não que as outras não foram importantes, mas tem aquelas que marcam positivamente, desafiadoras, por exigir do cursista o exercício constante da leitura e escrita. Por falta dessas práticas, meu primeiro Diário não teve escrita reflexiva, mas é como Zabalza (1994) salienta que “a atividade escrita arrasta consigo o fato de a reflexão ser condição inerente e necessária a sua elaboração”. Por falta do exercício, tanto da escrita quanto de leitura, não realizei escritas reflexivas e com linguagem acadêmica.
A cada Diário escrito percebi que necessitava me aprofundar nas leituras e discussões nas atividades assistidas e vivenciadas, elas me possibilitaram uma escrita mais concisa apoiada nos estudos através da teorização com a prática argumentativa e reflexiva, não apenas na mera descrição dos fatos e acontecimentos entrelaçados com as atividades, presença forte em minhas escritas, descrição.
Essa forma de escrever perdurou por alguns ciclos, mas as leituras constantes, minha perseverança em seguir aprendendo para ampliar minha visão de mundo, conhecimento enciclopédico era tamanho, por esse motivo passei a ler constantemente, sendo que, quanto mais se ler, melhor se escreve.
Ao realizar as escritas dos Diários, percebi que em alguns momentos regredia, em outros eu avançava, mas estes são os desafios que enfrentei quando me permitir escrever sobre mim. Sendo que ao escrever conto as aprendizagens já construídas do cotidiano como também, a ressignificação das mesmas ao longo do Curso.
Algo que contribuiu para a realização dessa escrita foi meu cotidiano que me possibilitou a interação das atividades vivenciadas com a minha práxis, em alguns momentos, o discurso de alguns cursistas me preocupava, ao relatar que, não conseguiam aplicar em sala de aula as atividades vivenciadas no Curso, sendo que o Curso ofereceu diversas atividades, alguma delas era especifica para o conhecimento do professor/cursista, outras poderiam ser aplicadas em sala, mas a visão de alguns cursistas eram transpor tudo que aprendiam no curso. Ao pronunciar que o Curso não tem essa proposta, alguns cursistas discordaram, por acreditar na transposição dai a ruptura estava posta.
Mais uma vez, ressalvo a proposta do curso com uma gama riquíssima de atividades. E, de todas as atividades oferecidas, tive o privilégio de me deliciar a elas e, uma que teve grande relevância foram os GELIT[1] porque me possibilitou reconhecer a importância que a leitura tem como elemento impar no meu percurso formativo e pessoal. Nessa atividade tive a chance de viajar, debruçar, rir, chorar, ler por deleite, por obrigação, enfim, tomei-a como desafio para aperfeiçoar meu conhecimento enciclopédico e os diversos contextos literários.
No Ciclo Dois, essa vontade e beleza literária me aguçaram o interesse em conhecer mais, me inscrevi novamente na atividade GELIT por reconhecer que ler era uma grande dificuldade, então tomei como um desafio o ato de ler. Realizei a leitura do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
A leitura desse livro me fez mergulhar na reflexão sobre minha história de vida, devido ao contexto se aproximar da minha realidade. Em que o cenário nordestino, traduz em muitas realidades a desigualdade social, e traço um paralelo a cena em que mostra nitidamente a preocupação da mãe em alimentar os filhos, situo-me neste contexto em que a minha família também passou por essas situações em alguns momentos. Essas cenas me levam a valorizar as pequenas coisas da vida.
Os estudos literários eram realizados semanalmente, nesses encontros eram discutidos os contextos sociais e políticos em que os autores protagonizavam suas narrativas, confesso, não gostava de ler, nos primeiros GELIT me inscrevia, por conta da carga horária, mas após realizar os estudos percebi a importância da leitura para minha formação. Não tinha como não aprender a gostar de ler, sendo que as atividades oferecidas no curso exigiam leituras, tive duas alternativas: ler ou ler.
No Ciclo Três, o desejo de seguir aprendendo, não mudou, compreendo que a aprendizagem é um processo gradativo, que requer tempo interação, como afirma Vygotsky (1987) na teoria sociointeracionista é necessário à interação para que haja aprendizado, comigo não foi diferente a cada Ciclo ampliava meu repertório e, meu conhecimento.
Nesse Ciclo participei de várias atividades que me ajudaram a responder algumas perguntas; Quem sou? Quem são as pessoas? Qual minha importância na sociedade? Com a leitura do livro: Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, Clarice Lispector, encontrei respostas de algumas dessas questões. E, ao mesmo tempo surgiam outras, não era novidade, uma vez que os seres humanos convivem com várias indagações, às vezes levamos anos para descobrir quem realmente é ou se vivemos com máscaras que escondem nossa própria identidade.
Assim, como Lori protagonista do livro, que, só conseguia conversar com quando usava maquiagem, para ela, esse ato, no sentido figurado era sua máscara, sendo que, cobrir seu rosto transformava-a em outra pessoa. Sua postura me leva a refletir e questionar: Quantas máscaras usamos para resolver nossos problemas? Conseguir os nossos objetivos?
Ao término da escrita do Diário de Ciclo Três ao receber o parecer, ficou visível que minha escrita na questão de conteúdos teve avanço, mas persistiam alguns erros, um deles parecia ter criado raízes em mim, as descrições de detalhes e as marcas da oralidade. Para superar essa dificuldade foi necessária muita leitura e escrita constante.
Lembro que no Ciclo Quatro, as minhas escritas ganharam outra roupagem e linguagem acadêmica. Passei a escrever de forma reflexiva, apropriando-me do conhecimento enciclopédico, que adquiri no percurso do curso de Licenciatura em Pedagogia, sendo que, pensar acerca das minhas escritas não é fácil, exige uma lógica de sentidos e compreensão de mim enquanto escrevo, e ao mesmo tempo pensar no leitor de minhas produções escritas ou imagéticas.
Mesmo com os avanços que tive na escrita dos Diários de Ciclo, ainda permaneceu: escrevia meus Diários no coletivo, não me colocava no texto, narrava os acontecimentos de forma coletivizada ao Curso, ate então não tinha a consciência que o leitor necessitava de informações que o situassem em minhas vivencias. Ao receber os pareceres finais, percebi que essa característica na escrita permanecia. Apropriei-me dos conhecimentos adquiridos, a partir dos pareceres comecei a realizar escritas concisas em que minhas experiências estavam postas de forma singular, com uma diversidade de conhecimentos vivenciados e experimentados.  Então, compreendo a necessidade de reconhecer minhas possibilidades e valorizar meus saberes na experiência das escritas dos diários.
Através dos saberes da experiência que, de alguma forma, nos formaram, formam e continuam inferindo em nossas práticas cotidianas, levando-nos a refletir sobre a prática em busca de constantes ressignificações e novas aprendizagens.
Assim, a experiência de narrar os Diários de Ciclo, como o registro que, é uma possibilidade de aperfeiçoar minha escrita, representar as angustia expectativas e minha atuação através de um objeto correto. Registrar os diários de ciclo é como entrar num labirinto de palavras, em que muitas vezes mim perdi e me encontrei, retornando ao eu.
Portanto, o ato de registrar é um processo árduo, mas necessário para me fazer pensar acerca do meu percurso formativo, além de tornar-me uma professora reflexiva, consciente de minhas ações. Sendo assim, no momento em que transcrevo as aprendizagens adquiridas, penso e reflito sobre as mesmas, o exercício de observar/escutar é um dos princípios do registro.  O registro não deve ser encarado como apenas uma tarefa exigida por alguém ou instituição, mas sim uma rotina do ser professor.
Experiência comprovada, pois ao relê meus primeiros Diários, e ao realizar a leitura dos últimos a diferença foi visível, principalmente nos aspectos reflexivos e ortográficos, a frustação que tive no inicio do Curso ao saber das escritas dos Diários foram superadas. Hoje reconheço o quanto essa atividade contribuiu para o meu exercício e crescimento tanto pessoal quanto profissional.
















REFERÊNCIA:



 LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.


VYGOTSKY, L. S., Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.





  
               


[1] GELIT – Grupo de Estudos Literários.

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